Patologização da vida: para cada afeto um diagnóstico

Medicalização

Será sustentável?

Há algum tempo tem crescido a conscientização a respeito da importância do
cuidado com a saúde mental.

Entre os adolescentes nota-se que a abertura para conversar sobre
acompanhamento psicoterapêutico, ou psiquiátrico já é bem maior do que entre os adultos
acima de 30 anos. Compreender que o sentir interfere diretamente na capacidade de se
encontrar no mundo, além de uma possibilidade de comunicação a respeito de existências, que
vão além da métrica hegemônica estabelecida por uma suposta tradição, já representam grande
avanço dessa maior conscientização.

Entretanto, junto a essa maior compreensão, surgiram também movimentos que
parecem retornar para o estabelecimento de uma métrica que busca enquadrar, ou encaixotar,
os sujeitos em prateleiras, que estabelecem patologias para tudo e uma suposta pílula mágica
ou um método universal capaz de solucionar todas as questões, perdendo de vista o sujeito
singular que carrega tais ou tais características “patologizadas”.

Diagnóstico psicológico e medicação psiquiátrica são ferramentas
necessárias, mas que não devem ser banalizadas.

Diagnóstico psicológico e medicação psiquiátrica são ferramentas necessárias quando se
fala em saúde mental. Mas não devem ser simplificadas ou banalizadas, de modo que o sentir
passe a sempre ser categorizado para, em seguida, ser anestesiado. Viver requer pulsação,
requer diferença de potencial, requer oscilação.

O batimento cardíaco nos lembra bem isso: quando a linha fica reta a possibilidade de vida se esgota, há a mortificação do corpo. Dentro
dos afetos isso também se faz presente, é necessário cair para levantar, é necessário sentir, mas não só o que é doce ao paladar. A criança não aprende a caminhar sem belos tombos fortalecendo e ensinando seu equilíbrio.

Saúde mental requer saber se manter presente e disponível ao fluxo contínuo da vida, que exige de nós tempo, paciência e disponibilidade para encarar os vales.

Para além do adoecimento, o sujeito precisa ser pensado em sua
totalidade, singularidade e individualidade.

Além disso, mais do que diagnósticos, nos importa o sujeito que os tem, parafraseando
Jung. Sua história, sua forma de encará-los, as relações que o compõe. Por isso, quando se fala
em psicoterapia, não se pode falar em regras gerais, o que cabe aqui é o encontro e o que esse
encontro pode produzir de vida, e não apenas reproduzir.

Saúde mental se faz com sujeitos individuais que, quando capazes de reconhecer e respeitar suas particularidades, podem
também respeitar o mundo ao seu redor. Psicoterapia se faz no um, que respeitado e integrado
pode respeitar o todo e com ele colaborar. Dessa forma, diagnósticos são importantes, desde
que o indivíduo possa existir para além dele, desde que não se perca de vista cada pequeno traço
de individualidade que carrega consigo também a cura singular.

O texto é de total responsabilidade de sua autora identificada abaixo.

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