A ansiedade, como quadro clínico, é uma emoção complexa, podendo ter origem em fatores históricos, sociais e biológicos. Os sintomas podem ser percebidos em nível emocional e corporal.
A ansiedade é basicamente medo, mas um tipo de medo sem objeto específico. O medo que comumente conhecemos é aquele que nos acomete numa hora específica, diante de um risco concreto: cair da moto, sofrer assalto na rua, cachorro bravo se aproximando, gravidez indesejada, etc. Nesses casos, é muito fácil identificar a fonte, o objeto. Já a ansiedade não é só de um momento específico, e ela não passa assim que o risco acaba. Se você já sofre de ansiedade, sabe como esse medo intangível não passa ao longo das semanas, dos meses ou dos anos.
É difícil para o paciente definir concretamente o risco que a ativa, pois não é obvio inicialmente, como seria obvia a consequência de sofrer de um acidente ou uma vitimização inesperada.
O contexto histórico sobre os eventos que nos atingiram ao longo da vida pode ser dado importante para objetivar a fonte do temor individual na ansiedade. A psicologia e a psicanálise trabalham junto ao paciente, a reconstrução do percurso até chegar no quadro ansioso e após chegar neste ponto, trabalha na construção de novos caminhos a partir do quadro de ansiedade.
Ansiedade como doença.
“Doença” podemos definir como o oposto de “saúde”, que segundo a Organização Mundial da Saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social. Então o que poderíamos entender como bem-estar? Sugiro que possa ser, por exemplo, não ter questões, preocupações, vazios ou problemas para resolver, que possam consumir a nossa energia permanente ou totalmente. Mas, será que ignorando que existem já podemos fazer com que um estado de bem-estar se instale nas nossas vidas?
Não é porque achamos que somos capazes de relevar algumas dificuldades da vida que iremos ser capazes de desconsiderar uma pressão alta constante, uma vertigem persistente que nos faz cair, uma enxaqueca semanal que a cada vez nos incapacita mais para voltar às nossas funções, e muito menos desconsiderar o dano orgânico gerado por essa fisiologia constante de um tipo de medo que nunca para, ou seja, ansiedade, quando ela passa a afetar o nosso fígado, rins, visão, sistema reprodutor, sistema imunológico, pele, etc., desenvolvendo outros quadros ou acentuando quadros pre existentes.
Ressalto ainda que, não é porque queremos esquecer de alguma parte da nossa história que ela irá embora das nossas vidas. Não adianta ignorar que uma história que deixou marcas e “caminhos” igualmente marcados, continuará a nos levar a lugares que não queremos.
Fisiologia da ansiedade explicada de modo simples
Não adianta muito sempre fazer exercícios de respiração ou musculares, ou tomar para sempre remédios que nos ajudem a dormir, por exemplo, para desfazer a disposição fisiológica que pode ser crônica, que ocorre com frequência em pessoas com ansiedade.
Existem condições físicas e mentais que viram crônicas, por conta da persistência e durabilidade, assim como devido aos danos corporais que elas geram, dependendo do caso, estamos falando de alguns meses ou anos. Certamente, cada corpo terá condições desiguais para lidar com o peso de uma afetação, de uma vivência ou de um trauma.
O nosso sistema nervoso e o nosso corpo, de modo geral, se dispõem a través do medo, a nos defender de ameaças, e nos colocam a correr, lutar ou ficar imóveis, de forma que, na teoria, não nos acometa de morte. Precisamos de boa presença de sangue com boa carga de oxigênio e açúcar nos nossos músculos para isso: correr, lutar ou impedir o movimento.
Pensa de novo nos exemplos da moto, do cachorro, do assalto, por exemplo: você pode pensar por quê poderia ser útil correr muito rápido, reagir com mais força do normal, ou resistir e não se mexer em algum desses casos? O corpo cuida disso de forma automática, e embora seja ruim, a sensação sempre passa rápido: claro, se nem a moto, nem o cachorro, nem o ladrão atingem a pessoa, e se não significam nada além para ela.
Com um “preparo” que não para, dá para imaginar que comece a faltar bom fluxo de oxigênio, açúcar e outros nutrientes em órgãos e sistemas que não sejam fundamentais para a defesa temporária. Em menos de um ano, já se pode sofrer danos, e cabe a cada corpo descobrir se eles serão reversíveis ou não. A psicologia trabalhará aqui com o apoio da medicina para minimizar os danos que a ansiedade causa no paciente.
Ansiedade como impedimento para funcionar.
Especialmente nos tempos de hoje, onde todas as pessoas estão sempre ocupadas, não há tempo suficiente para processar emoções e vivências pessoais, estados anímicos e físicos que não permitam às pessoas funcionarem no trabalho, no estudo ou na família.
Nesse contexto, surge a sensação de que “sentir” alguma coisa é inconveniente: quase qualquer coisa, desde felicidade até vazio e dor. Ou seja, precisamente a capacidade de ignorar, relevar e fazer de conta que não temos uma interioridade que sente e se comove com a vida, acaba sendo valorizada como algo “bom” para se ter, por ser a estratégia mais efetiva para continuar a funcionar, produzir, e se atentar às demandas dos outros. Inclusive das pessoas que amamos. Mas por quanto tempo você acha que essa “capacidade” tão “útil” irá ser sustentável para um ser humano como você ou como eu?
Entenda que ao usar o termo “especialmente” no parágrafo anterior, estou sugerindo que a correria dos tempos atuais não é a única razão que leva às pessoas valorizarem a “capacidade” para relevar estados internos, e deixarem para depois tomarem conta deles. Não são só as pessoas que têm um emprego, empreendimentos, ou aquelas que fazem faculdade que ficam muito atarefadas e cheias de problemas para lidar. Não falo apenas de produtividade material e intelectual que tanto ocupa às pessoas, mas também das relações interpessoais.
Reforço o que disse no início para tratar quadros de ansiedade, profissional e paciente deve estabelecer uma relação de parceria em busca de identificação de fatores que levam o paciente ao quadro ou crises.
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