A série Dom, baseada em fatos reais, retrata a trajetória de Pedro Dom, um jovem de classe média do Rio de Janeiro que mergulha na dependência por drogas e no crime. O fio condutor da narrativa, no entanto, está na relação intensa e conflituosa entre pai e filho — Pedro e Victor Dantas, um ex-policial que luta para salvar o filho de si mesmo.
🔎 Dependência Química: Uma Doença da Relação
Do ponto de vista da psicologia, o uso abusivo de substâncias químicas está associado não apenas a predisposições biológicas e ambientais, mas também à forma como o indivíduo se relaciona com o mundo e consigo mesmo.
Pedro revela características comuns a dependentes: impulsividade, carência afetiva, baixa tolerância à frustração e a busca por sensações extremas. O uso de drogas, muitas vezes, aparece como uma tentativa desesperada de acalmar conflitos internos, reduzir angústias ou preencher vazios afetivos.
Segundo a teoria da vinculação de John Bowlby, relações afetivas precárias ou inseguras na infância podem aumentar a vulnerabilidade ao uso de substâncias na adolescência. Pedro, mesmo sendo amado, demonstra viver um vínculo marcado por ausência emocional e expectativas rígidas.
👨👦 Relação Pai e Filho: Controle x Proteção
A relação entre Pedro e seu pai, Victor, é um dos pontos centrais da série. Victor representa o controle, a autoridade, o vigilante — mas também o pai ausente, muitas vezes emocionalmente indisponível. Em diversos momentos, suas tentativas de salvar o filho beiram a obsessão, e o cuidado se mistura com o desespero e a culpa.
Sob o olhar da psicologia sistêmica, a dinâmica familiar disfuncional, onde papéis se confundem e limites se perdem, pode ser um fator de manutenção da dependência química. O pai não consegue ser apenas pai — ele também é salvador, perseguidor, carcereiro. Pedro, por sua vez, vive entre o desejo de ser amado e o impulso de desafiar e romper esse domínio.
A relação é marcada por ambivalência emocional: o amor se mistura ao ressentimento, o cuidado ao controle, o desejo de aproximação à fuga constante.
🧠 A Dependência como Comunicação
Para a psicologia no contexto clínico, o vício pode ser entendido como uma forma de expressão do sofrimento psíquico. Pedro parece usar a droga como resposta a uma série de questões emocionais mal elaboradas — inseguranças, pressões, conflitos com a identidade e com o lugar que ocupa na família.
O comportamento autodestrutivo pode ser interpretado como um grito: um pedido de escuta, de atenção, de vínculo.
💬 Para Refletir
Dom mostra que a dependência química não nasce no vazio. Ela se alimenta de vínculos frágeis, histórias mal contadas, afetos mal digeridos. A série nos lembra que, mais do que combater o uso da droga, é preciso escutar a dor que sustenta a dependência.
A psicologia tem papel essencial: desconstruir padrões familiares doentios, restaurar vínculos e promover a reconstrução da identidade do sujeito fora da dependência.